DEPOIMENTO REFLEXIVO DO PRENSAUTO
Elenice da Silva Pincel: Minha ferramenta de trabalho. a figura poética da pessoa do artista.Com ele construo imagens, exploro o uso da cor. Costumo visualizá-lo como uma extensão afinada da minha mão. Sem ele não conseguiria trabalhar, por isso ele quase que já faz parte de mim. A firmeza de seu cabo e a sensibilidade de suas cerdas se assemelha a mim na forma em que levo minha vida
Tubo de tinta: Representa a cor em todas as suas potencialidades. Cores da natureza, as cores de fotos, das telas de computador, das obras de arte. Amo observar as cores da natureza, as tonalidades do pôr-do-sol e de como a cada dia é diferente, as cores da noite, da lua e das estrelas. A própria iluminação urbana à noite. Quando chove então... um brilho maior. Da janela do meu atelier acompanho, quando quero descansar um pouco, as cores e o movimento das nuvens... tons acinzentados, imagens formadas. Me remete à importância do nosso olho ao poder visualizá-la de acordo com a luz, pois seria muito sem graça ver o mundo em preto e branco.A cor representa também o colorido da vida, a alegria e vontade de viver mais e mais. Faz-me refletir sobre a perfeição da espécie humana
. Para outros, eles podem ser simplesmente pincel e tinta e representar o status de artista, de obra de arte. Para mim é muito intimo, para os outros pode ser um desafio, uma dificuldade em lidar com algo tão delicado. Para mim são instrumentos de trabalho, mas para outros não é. Ao mesmo tempo penso que para mim, parece muito complicado manusear todas aquelas ferramentas de um dentista, ou a dosagem dos temperos de um chef de cozinha ao lidar com panelas e talheres... ou ainda ter força para segurar uma pá , uma enxada para plantar.Estas também são ferramentas de trabalho, mas muito diferentes.
Um pensamento importante que me ocorreu agora é que o professor de Artes tem estas ferramentas maravilhosas nas mãos para poder influenciar seus alunos a se maravilharem com as pequenas coisas. Através deste trabalho do prensauto descobri que as coisas que já era importante para mim passaram a ser mais valorizadas ainda. Isto está faltando hoje em dia. Assim como está faltando também a sensibilidade que é uma capacidade de enxergar as coisas e a vida com outros olhos, vendo inúmeras possibilidades, novos caminhos.
Os meus objetivos artísticos anteriores ao prensauto eram mais ligados à pintura e ao entendimento da tridimensionalidade através dela com o uso das cores em luz e sombra para dar volume. Não havia trabalhado ainda com a composição de um objeto tridimensional. Pensava às vezes em como esta obra poderia transmitir a sensibilidade do artista e vejo que depois de pronto, quantos significados caberiam para expressá-lo dependendo de quem vê.
Levando em conta que o prensauto é uma composição tridimensional que tem a forma de uma parte do corpo humano (que é perfeito em suas funções e que tem a ver com a escolha dos meus objetos autobiográficos, pois o pincel para mim também é uma extensão mais afinada da minha mão), pensei em expô-lo juntamente com os dos meus alunos em um lugar ao ar livre em contato com o colorido da natureza, às vezes em forma de pegadas em um caminho representado o caminho em que percorremos na nossa vida, outras vezes pendurado em árvores. Em cima do muro, representando as nossas escolhas, na grama que é um lugar macio, mas que de vez em quando nos espeta, na areia, na calçada, no paralelepípedo, no asfalto, em cima de pedras e em cima de tecidos macios. O convite seria aos visitantes para que percorressem este caminho das pegadas sentido na pele , de pés descalços o que cada situação oferecia, sentindo o cheiro e vendo as cores da natureza. Assim acredito que o visitante sentiria e entenderia que o significado deste tipo de arte é a valorização do ser humano, suas potencialidades e perfeição através do longo caminho que percorremos na vida.